(Romance)

 

Tu me perguntas a história
Daquele triste ranchinho,
Que abandonado encontramos,
Coberto por negros ramos
De pessegueiro maninho;
Aquele rancho de palha,
Aquele triste ranchinho?...
Ai foi um drama de sangue
Que ali se deu ... pois não vês?
Repara para as janelas...
O fogo passou por elas!
- Há quantos anos? - Há três.
Contou-me o velho moleiro
Há pouco menos de um mês.
Ali morava um velhinho
E mais, um anjo de amor;
Criança bela e morena
Mais formosa que a açucena...
Maria, - a pálida flor,
Cujo perfume recende
Ainda aos pés do Senhor.
Maria e Vito se amaram,
Iam seus fados unir,
Quando a trombeta da guerra
Plangente ecoou na serra
Convocando a reunir:
Parte o audaz cavalariano,
Porém antes de partir...
Porém antes... entre beijos
Juraram constância enfim.
"Se eu morrer numa batalha,
Nesta casinha de palha
Tu viverás só por mim?..."
A moça beijou-lhe a fronte
E respondeu-lhe: "Pois sim."
Os anos voam! Há tempo
Que Ela não ri como sói...
Chora a triste sertaneja,
Quando por fim lhe negreja
Uma notícia que dói!
Morrera Vito em combate...
Morrera como um herói.
Vestiu luto a pobrezinha,
o velho também vestiu...
Cede por fim a ternura,
E pouco a pouco a tristura
No peito se lhe extinguiu;
Se Ele morreu, foi destino,
Foi a sorte que o feriu!
Depois, correu pela riba
Uma nova singular:
Que a bela flor do posteiro
C'o o filho de um fazendeiro
Ia de pronto casar;
Causou abalo a notícia,
Sem que ousassem duvidar.
Uma noite a tempestade
Batia pelos cipós,
Gemia o vento nos montes
E as águas frias das fontes
Desciam com rouca voz...
E no rancho do posteiro
Dois noivos dormiam sós.
De repente pela encosta
Um cavaleiro desceu;
Molhado o poncho brilhava
Ao resplendor da saraiva
Que resvalava do céu...
Era um vulto negro... negro...
Trazia enorme chapéu!
Soltando a rédea ao cavalo,
Ao rancho foi espreitar...
O vento rugia ao longe
E o bosque - sombrio monge -
Estava como a rezar...
À luz de um raio se abre
A porta de par em par!
Sobre o leito precipita-se
O camponês sem temor!
No punho a adaga flutua
E nas mãos aperta a sua
Primeira sombra de amor!
Uma luta então se trava
Sendo Vito o vencedor.
"Pérfida! brada o gaúcho
Vês o teu noivo? Morreu!
Morrerás também, ingrata!"
E a fria adaga de prata
Bem nos ares suspendeu.
Baixou a mão e três vezes
No alvo seio a embebeu.
No outro dia os destroços
De um rancho via-se então.
O incêndio levara tudo.
E fora cúmplice mudo
Fora cúmplice o trovão!
- Aí tens a história que pedes,
Do ranchinho do sertão!

Lobo da Costa