Que é isto gigante? Acaso dormes
No fatal letargo em ânsias labutando
Acaso deixarás impune os brados
Dos bravos mutilados nas batalhas
Os soluços dos pais, esposa e filhos
Lá dos confins do Norte ao Sul unir-se
E nos ares um quadro apresentarem
Implorando vingança ante teu vulto?
E o sangue que a campina tinge aos cântaros
Que rola qual do oceano bravas ondas
Despejadas por mãos da tirania?
Ergue-te gigante! Empunha a espada
Que esse sangue que jorra quais cascatas
Despenhadas das veias brasileiras...
Aos hinos de vitória e de vingança
Dos burrifos mirrados que aparecem
Vereis brotar imarcescíveis flores!
Desperta gigante do repouso...
Não consistas que aquele que manchou-te
Que derramou o sangue de teus filhos
Que com grosseiros pés mirrou as flores
De teu prado gentil na primavera,
Venha a mão apertar-te onde ainda flutua
A espada da vingança acesa em ira!
Despreza esse caudilho, não consistas
Que a paz mais vergonhosa creste as faces
De tantos brasileiros denodados...
Não queiras ver o povo horrorizado
Pra vergonha encobrir de suas faces
A solidão procurar aonde esqueça
Que já chamou-se um dia brasileiro
Não queiras minha pátria esses triunfos
Que os louros ressequidos desbotados
Em pó ora tornados voarão
Pelos ares a vontade do pampeiro!
Não queiras que essa mancha vá cair
Sobre as lousas dos velhos servidores
De Andrada, Camarão, Negreiro e Dias,
Que esses sonos de chumbo despertando
Horrorizados com tamanha insânia
A campa deixarão que ora os assiste
E irão sepultarem-se entre os penhascos
Onde a brisa sussurra mansamente
Longe do berço seu que não soube
Respeitar com valor as suas cinzas!
Não queiras ver a nódoa a mais negra
No rosto brasileiro aonde sempre
Os raios do triunfo reluziu!!...
Não desejes ver a velha Europa
Com trêmulo dedo te apontar
E rir-se com desdém de teus decretos
E o nome do Brasil envilecido.
Não manches o porvir desta deidade
Que nos seus verdes anos já disputa
A par do velho mundo as suas glórias!
Marche o povo invencível à batalha
Disputem cada qual sua bravura
Para sustentar nobre colosso
Que no seu pedestal de brônzeo granito
Mais fácil tombará nadando em cinzas,
Do que curvar a fronte ao estrangeiro.

            F. Lobo da Costa
            Pelotas, 17 de fevereiro de 1867