(Ao alferes M. Luiz dos Reis Corrêa)

Vai por mim carta ditosa,
A ditosa habitação...
Onde vão os meus suspiros,
Onde está meu coração!

Vai saudar a quem adoro
Belos lares florescentes...
Lembrados, saudosos manos,
Amigos e parentes!

Leva com todos mil venturas,
Saúde, paz e alegria...
Enquanto negros pesares,
Furte o triste que te envia!

Neste fraco Ferrabrás
Onde habita Jacobina
Nesta triste pobre margem
Onde vim cumprir a sina.

Neste tosco acampamento
(ou degredo disfarçado),
Onde arrasto a vil cadeia
Do cativeiro dourado;

Aqui, onde a vida, as horas,
Os deveres e etiquetas
Tudo, tudo é regulado
Por importunas cornetas;

Nesta guarida inconstante
Que se nomeia barraca,
Onde vejo - moto-contínuo:
Muda, finca, arranca estaca;

Nesta terra mal segura...
Leve barca perigosa,
Onde enfim já deu a costa
Em tempestade horrorosa!

Nesta guapa e grossa luta
Contra Klein o capitão
Que saudades eu não tenho
Do meu nativo torrão.

Dessas formosas campinas,
Sem baixos nem feios montes,
Onde a vista se dilata
Dilatam-se os horizontes

Dessa plaga venturosa
Rico sol abençoado,
Que da peste assoladora
Foi até mesmo respeitado!

Desses lares meus queridos,
Por quem suspiro saudoso.
Desses prados que percorre,
São Gonçalo majestoso!

Ah! Se tu olhos tiveras
Havias ficar pateta
Vendo a grande diferença
Que por lá vai desta orquestra!

E a gente! A briosa gente!
Oh! Cartinha, minha amada...
Tu verás em lá chegando,
Como hás de ser bem tratada!

Como lindos prazenteios
Hão de todos à porfia,
Qual primeiro festejar-te,
Com não fingida alegria.

De uma a outra mão passando
Qual rara prenda mimosa,
Mil delícias, mil venturas,
Vais gozar, carta ditosa...

Vais passar por mão de nina,
E por colos tentadores,
Róseos lábios delicados,
E olhos ternos matadores!

E...cuidando inda pisada,
Não vás andar pelo chão,
E algum menino travesso,
Que te pregue algum rasgão.

Ah! Dos males que te esperam,
Serão estes os menores...
Deus te livre carta minha,
De outros mil ainda piores!

Tal é a ordem do mundo,
Da ventura o tempo passa
E quando menos se espera,
Somos presos da desgraça!

Eu quisera que tu visses
Um caso que se passou,
Na margem bem lastimosa,
De um reúno que começou:

Morador fora algum tempo,
De asseada estrebaria,
Segundo as informações,
De gente que o conhecia!

Guerreiro bravo e monarca,
Por alcunha o Saibo glória
Que de dez quadras na raia,
Cem vezes cantou a vitória!

De bela e formosa dama
Comia milho na mão
E (quando Deus permitia)
Também doce, queijo e pão.

Vivia nédio e lustroso
Pêlo fino e escovado
Era enfim o cavalinho
Da boa dona adorado.

Mas passou tão belo tempo
Seus belos dias findaram
E não sei porque diabrura,
Uma orelha lhe cortaram!

Caiu-lhe a desgraça em casa
E... hei o antigo parelheiro:
Magro, feio e maltratado,
E já por fim de cangueiro!

Aí vai gemendo o pobre
Com cangalhas e brocas,
E um serro inda por cima,
De malas, paus e barracas.

É tal ordem das coisas,
Cá por estas batatadas...
Que nem mesmo o Saibo da glória,
Escapou das volteadas!

Já ouço o belo clarim
Soltar as vozes à brisa;
Talvez - agora a revista,
Me toque a vez da baliza!

Saudades ao bom Pedrinho,
E ao nosso Manjericão...
- Que breve irei a som junto,
Se não ficar de plantão!

 

Ferrabrás, agosto de 1874.
A.R.S.